Tradições
Matança do Porco
Dizia o povo que «Pelo Stº André faz o porquinho “cué, cué”». Era a época das matanças que normalmente se estendiam do dia da Imaculada Conceição até meados de Fevereiro.
A matança era um dia festivo, marcado pela entre ajuda familiar ou dos vizinhos. Significava fartura para a casa e por isso era digno de comemoração gastronómica uns dias depois.
Convidam-se os amigos para partilhar dessa festa de cuja ementa constava os rojões e o sarrabulho.
“Sarrage” das Velhas
A “Sarrage das Velhas”, tradição que se estendeu a outras regiões, onde ainda hoje há várias testemunhas vivas, é uma das antigas “festas” satíricas conhecidas em Santa Eulália.
Apesar de geograficamente outrora pertencer ao Douro Litoral, esta freguesia sempre teve, em termos paisagísticos, uma relação muito mais forte com o Baixo Minho, o povo de Santa Eulália, pela sua vivacidade, alegria e espontânea apetência à festa, às cantigas e às danças, é todo ele minhoto.
A palavra “sarrage” é utilizada pelo povo para dar nome a esta tradição. É o termo transformado por via popular da palavra serragem, do verbo serrar. Por sua vez serrar significa cortar e, neste caso, “cortar na casaca”, ou seja, criticar. É a crítica (a velhas e solteironas) feita em tons satíricos e por vezes “picantes”. É o definhar da pessoa visada, cuja vida é motivo de crítica.
A “sarrage das velhas” iniciava-se na 1ª Quarta-feira da Quaresma e prolongava-se até ao Domingo de Ramos, ponto alto deste cerimonial satírico e jucoso.
Os autores destas brincadeiras eram os rapazes solteiros que ao fim da tarde se distribuíam por diversos lugares da freguesia, onde tocavam os búzios (aos quais davam o nome de “cornos”) anunciando assim, a “sarrage” pela noite dentro.
Começa-se então a ouvir aqui e acolá o barulho dos búzios, que convidavam todos os “Eulalenses” a participarem na festa.
O “Alto do Pulo” e o “Calvário”, lugares mais elevados, prestavam-se à colocação estratégica dos pregoeiros sarcásticos, que com grandes funis e búzios se faziam ouvir por toda a freguesia.
Como havia sempre grande número daqueles que gostavam deste jogo satírico, os primeiros que se apoderassem do “alto do outeiro” eram os senhores da reinação, e ninguém mais tinha o direito de se intrometer, até porque os vigias impedem a aproximação de estranhos ao grupo.
Apareciam então os “especialistas” que falavam ao funil.
Apurados os últimos detalhes, a “festa” prosseguia dando lugar à “sarrage da velha” propriamente dita.
Chegados ao monte mais próximo da casa da velhinha escolhida, e utilizando um cortiço e um grande “sarrão” (serra muito grande), fingiam que a serravam.
Mas, o que realmente “sarrava” a velha não era o “sarrão”, mas sim as quadras satíricas inventadas espontaneamente pelos homens dos funis.
A quadra seguinte é um exemplo dessas críticas:
“ – Sarra! Sarra daí, que eu sarro daqui… (e ouviam-se os “sarrões”)…
– Sarra-te, ó velha de bigode russo, sarra-te ó guardadora de cabras!…
– Com a barbela enganchada,
Enganchada até à boca,
Já tens os dentes caídos,
Consumada a “sarrage” era lido o testamento. Era esta uma das partes mais animadas da cerimónia. Normalmente eram atingidos o regedor, o Padre, o sacristão e obrigatoriamente as solteironas ou raparigas que mais se “armavam” na freguesia.
Lido o testamento, era feito o enterro, simbolizado pela campa. A campa era feita de forma asseada (com flores do monte), em lugar comum de habitual passagem da visada e dos conterrâneos quando iam para a missa.
Todas as manhãs a garotada ocupava-se de refazer as campas das velhas sarradas, que eram conservadas até ao Sábado de Aleluia.
No Sábado de Aleluia, quando a velha se dirigia para a missa, iria encontrar no seu caminho uma “macaca” ou espantalho personificando a sua pessoa e que, aquando da sua aproximação rebentaria, pois estava recheada de bombas de foguetes, cujo rastilho era aceso por um vigia.
Há cerca de 65 ou 70 anos, deu-se uma adulteração nessa tradição na nossa região, por força da pressão exercida através do clero nos paroquianos, no sentido de tentar evitar a humilhação que algumas idosas sentiam.
Foi então que se iniciou a serragem das mulheres solteiras, sobretudo as menos jovens, as “solteironas”.
Esta “sarrage” apesar de se dirigir não às velhas, mas às solteironas, processava-se da mesma forma.
Era esta espontaneidade, este espírito de crítica, característicos de quem participava na “festa”, que motivava e alertava a curiosidade da restante população e os fazia assistir a este ritual até altas horas.
Infelizmente, esta tradição (mesmo a “sarrage das solteironas”) já não faz parte das noites de Santa Eulália, no período da Quaresma, e hoje existe apenas a recordação daqueles que assistiram e participaram nestas “brincadeiras”.
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